Nas Trilhas da Pequena África de Cuiabá: arte, memória e resistência no centro da cidade

Cidades 07/04/2025 11:07

 

Por Manoel Silva

No coração de Cuiabá, entre ruas antigas e muros que ainda guardam memórias silenciadas, pulsa uma nova vida nas rotas da Pequena África — território simbólico e afetivo que tem sido resgatado e redesenhado por meio de um projeto potente: “Nas Trilhas da Pequena África de Cuiabá”. Idealizado e desenvolvido pelo IAI – Instituto de Articulação de Ideias, o projeto nasceu em meio a dor da pandemia, impulsionado pela primeira edição da Lei Aldir Blanc, e hoje segue ganhando força, prêmios e reconhecimento.

Mais do que um mapeamento histórico, trata-se de um movimento de valorização da cultura afro-brasileira na capital mato-grossense. O projeto recupera rotas ancestrais e espaços de resistência negra, dando visibilidade aos artistas negros de ontem e de hoje, com destaque para os grafismos, os traços, as cores e as vozes negras que desenham e redesenham a cidade.

Coordenado pela professora, doutora e historiadora Silviane Ramos, a iniciativa busca não apenas contar a história — mas fazer viver a memória nos corpos, nas artes, nas ruas e nas escolas. “Precisamos ressignificar lugares de opressão como espaços de resistência. E reconhecer que o centro histórico de Cuiabá foi, sim, construído por muitas mãos negras que merecem ser lembradas, celebradas e referenciadas”, destaca a pesquisadora.

Abril marca o início de um novo ciclo do projeto, que abrirá espaço para encontros comunitários, oficinas, intervenções artísticas e caminhadas guiadas pelas trilhas da Pequena África. O material produzido — cartilhas, folhetos e registros audiovisuais — será distribuído em escolas públicas, centros culturais e entre agentes do turismo de base comunitária, como forma de fortalecer a educação patrimonial e a geração de renda com consciência histórica.

As atividades têm como foco o empoderamento da população negra cuiabana, e atuam na linha de frente da luta por memória, pertencimento e justiça. A Pequena África de Cuiabá, mais do que um nome, se afirma como território político, educativo e poético.

Por onde o projeto passa, muros ganham arte, vozes ganham espaço, e a cidade passa a reconhecer em si mesma uma herança antes negligenciada — agora celebrada como parte viva de sua identidade.


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